Hoje pela manhã estava lendo um artigo no qual um colunista escrevia sobre o show de Bob Dylan. Ao final, comentando sobre o preço abusivo dos ingresso ele disse: “”Apesar do preço, decidi ir porque minhas duas filhas adolescentes estavam desesperadas para vê-lo antes que esteja velho demais para seguir adiante. Elas cresceram ouvindo Dylan e sabem quais músicas gostariam de escutar ao vivo.”
Imaginei-as ouvindo Dylan para dormir, talvez porque eu mesmo colocasse Beatles, Pink Floyd, Bob Dylan e Neil Young para os meus filhos dormirem. Não só para dormir, mas para acordar, almoçar, estudar e todos os demais verbos que compõem a nossa vida. Hoje nas suas discotecas eles convivem lado a lado com os demais músicos de sua preferência. Ou melhor, com os demais músicos. Sei que lá no fundo, quando querem algo mais, eles param para ouvir as baladas dos Beatles, o som conceitual e inigualável do Floyd, os poemas atávicos declamados com a voz rascante de Neil Young e as letras infinitas disparadas pela voz anasalada do Bob.
Lembro-me de minha adolescência quando havia algo denominado conflito de gerações. Todos estes acima representaram o nosso grito de independência. Eles diziam tudo o que gostaríamos de dizer, mas não tínhamos espaço da Internet para sermos ouvidos...
Onde entra o Dylan? O Dylan está fora da curva dos demais gênios. Suas letras extremamente contemporâneas, influenciadas diretamente por Walt Withman (entre outros) extraem o suco do inconsciente coletivo da humanidade. Ou quem (que algum dia teve contato com sua música) não se lembra de “Blowin the Wind” quando alguém lhe faz uma pergunta irrespondível???
Há dois filmes disponíveis sobre Dylan. Um deles é ”I’m not there”, uma frase escrita na porta da casa, interpretado por vários artistas diferentes, uma alusão a sua camaleônica performance ao longo de sua vida. O outro é com ele mesmo, uma espécie de documentário feito por seu amigo Martin Scorcese, um dos poucos a ter acesso direto a ele. Neste conseguimos entender um pouco mais o enigma e como ele navegou pelo caudaloso, suave, revolto e sereno rio da existência.
Para ele não há margens.
Há apenas o rio.
E isso é tudo.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
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Dylan |
quarta-feira, 29 de abril de 2009
terça-feira, 28 de abril de 2009
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Contraditório |
"...sua mente analítica fica procurando contradições nas coisas que falo. Fique à vontade. Essa é uma tarefa fácil, de fato. Fico satisfeito, pois essa é a única maneira de fazer com que você se movimente de onde está. A vida em si é contraditória. Contradição gera movimento. Isso não precisa ser necessariamente um erro de raciocínio. Pode ser um aviso de que o que estamos conversando não seja enquadrado à sua visão de mundo atual ou à uma lógica comum. Pode ser uma maneira de mostrar a diversidade em tudo aquilo que é criado. Se existe esta diversidade toda, temos duas possibilidades: aceitarmos ou não. Se não aceitarmos ficaremos o tempo todo tentando achar argumentos que justifiquem nossa visão parcial da vida, baseada num passado distante. Neste tempo a vida estará acontecendo à nossa volta, mudando todas as perspectivas passadas sem que nos ajustemos a ela, preocupados que estamos em tentar cataloga-la. Se a aceitarmos, bem, se aceitarmos não teremos nem tempo de compara-la com o que passou, tal a beleza, força e atração que o presente exerce sobre aqueles que a ele estão abertos. De fato é uma questão de preguiça... Os preguiçosos são de alguma forma benditos, pois eles aceitam as coisas como são sem ficar buscando explicações ou sem tentar adequa-las a sua visão particular de mundo. Além de muito cansativo, é totalmente inútil..."
(White Goose)
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Frase do dia |
“O falso não suporta uma investigação, mas isso só pode ser entendido pelo próprio falso após ser investigado por si mesmo...”
(Deva)
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About Silence |
Muitos textos sobre o significado da palavra silêncio. Algo como comentários sobre uma foto do Monte Everest... Alguns o identificam como a ausência de ruidos. Outros o identificam como isso. Ou como aquilo. Não importa. Comentários indiretos são possíveis. Deste ponto de vista acho que a música é um instrumento que o ressalta maravilhosamente. Ou pelo desejo de silenciá-la no caso de pagodes ou funks (-::)) ou por ressaltá-lo divinamente em melodias repletas de apontamentos silenciosos ao vazio intervalo entre as notas. Beethoven era uma mestre nesta arte. Ou por tornar-se surdo ao longo e durante seu processo criativo ou por perceber a inutilidade dos sons ante a magnificiência deste silêncio avassalador. Poucos maestros após sua morte entenderam isso e aqueles que o perceberam foram considerados tão geniais quanto o mestre. Herbert von Karajan foi um deles. Há um vídeo de um ensaio da Filarmônica de Berlim onde ele interrompe o ensaio para dizer a um violinista da terceira fila que "naquele intervalo não havia nota a ser tocada e que isso era o sagrado daquela sinfonia!!!"). Fora da música talvez, apenas talvez, seja mais difícil. Como as letras, que precisam de uma folha branca para se destacar, ele precisa de sons para ser desejado. Este é o seu paradoxo. Se perguntarmos para o surdo o que é o silêncio ou perguntarmos para um cego o que é a luz a resposta não será a mesma? Estas não deveriam ser as questões básicas de um buscador? Não sei... Quando ouço que alguém está em busca do "seu silêncio interior" são estas questões que surgem. Mas entendo e percebo que as intepretações do seu significado sejam as mais variadas. Cada um busca aquilo que consegue entender, ou aquilo que aprendeu até então. E esta é a dificuldade na transmissão do que quer que seja. Osho dizia que a única forma de transmitir algo seria através da "transmissão especial", a transmissão sem palavras, algo que a física moderna tangenciou...
Cevando mais um chimarrão (para mim a fonte de toda a sabedoria do Universo...), ouvindo o II Movimento da Pastoral de Beethoven refletia sobre estes pontos. Sobre a bancada onde a gata que compartilha o espaço conosco pratica seus "exercícios anaeróbicos" (*) diários virando-se muito, mas muito lentamente de um lado para outro, havia um livro. Peguei-o. Num texto de um mestre Zen japonês li a mais clara definição do significado da busca pelo silêncio da mente, mas ainda era mais um koan do que algo explícito em si. Curto pesquisar as origens das coisas. Peguei o notebook e fui pesquisar a etimologia da palavra "silêncio", em japonês. Apareceu novamente o ideograma, que havia visto no livro do mestre Hakuin. Ali ficou claro: um ideograma vale mais do que mil palavras.
A caligrafia do ideograma que representa o silêncio é composta de duas partes: uma parte significa preto/escuro e a outra cachorro. Por que estas duas palavras juntas significam a busca pelo silêncio?? No dicionário etimológico japonês apenas consta que "numa noite escura, um cachorro preto corre atrás de um homem"... Beautiful!
Isso é a busca pelo silêncio! Era esta a imagem que havia sido transmitida pelo texto! E pela sinfonia que continuava impregnando a sala com sons compilados do silêncio ensurdecedor da mente beethoveniana. Imagine a cena: numa noite profundamente escura podemos ver (pelo menos nas noites existentes aqui no interior de Viamão) quase nada. Se um cachorro preto corre atrás de um homem numa noite escura, ambos não podem ser reconhecidos pelo outro. Nenhum vê o outro, apesar de um grande movimento ser perceptível. É o mesmo movimento descrito nas grandes sinfonias. Você não o vê, mas sabe que ele acontece. Você não vê onde ele acontece, mas sabe que ele acontece em algo imutável que permite que ele aconteça...
Alguém tentando ficar em silêncio traz este mesmo significado em si. É um cachorro - que não é visto - correndo atrás de algo que não vê. Quem corre de quem? Qual a direção da corrida? Não é apenas um movimento acontecendo?
Esta é a representação da busca da mente pelo silêncio. Que só pode ser o silêncio da própria mente! O barulho ensurdecedor de algo tentando silenciar-se. Nesta tentativa de eliminação, o ruído aumenta na mesma proporção. Perfeito! O silêncio em si não necessita de explicação. O que talvez necessite ser explicado é a razão da necessidade de buscá-lo. Ou de explicá-lo!
Algumas perguntas podem ser feitas. Quem percebe o ruído? Quem se identifica com este ruído? Quem tem a necessidade de interromper este ruído? Onde este ruído acontece? A quem este ruído perturba? O que aconteceria (e a quem) no silêncio absoluto?
E finalmente: a mente é suicida?
-:)
Love
Deva
(*) - imobilidade total...
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Listen to the heart & (mis)understanding |
"Um grande amigo meu costumava dizer que "a vida é um enorme mistério, ninguém pode entende-la. Aquele que diz te-la entendido é simplesmente um ignorante. Ele não está consciente do completo non-sense do que está falando. Somente algo sobre isso pode ser entendido - que o entendimento é impossível.".
Quando ele me falou isso pela primeira vez, entendi, mas não compreendi. Anos depois isso ficou claro como água. Não consegui dizer a ele que havia entendido esta e outras coisas simples que ele costumava me dizer em nossas conversas regadas a chimarrão e rapadura. Mas tenho certeza que isso não faria a menor diferença a ele, exatamente como não faz a menor diferença para mim agora... Isso pode ser ex-tendido a qualquer evento. Quando alguém diz que entendeu porque algo foi feito (ou dito) está ignorando completamente a simplicidade do momento. A mente foi projetada e treinada para entender coisas complexas. Qualquer coisa complexa pode ser dividida e analisada. Os fenômenos mais complexos do Universo estão (aparentemente) sendo explicados pelas mentes mais brilhantes do nosso planeta. Mas as coisas mais simples, aquelas que não podem ser divididas, estas permanecem e vão permanecer insondáveis. Engraçado, não??? A vida é simples. Ela não pode ser dividida. Ela não pode nem mesmo ser observada, pois ela acontece num momento onde a mente não tem acesso. Essa é a razão pela qual não há a possibilidade de se entender o seu significado... Outro amigo disse-me uma vez que ele não conseguiria falar a verdade, mas apenas sobre a verdade. Deste seu ponto de vista, um corolário poderia ser que podemos explicar a consequência da vida acontecendo, mas não podemos falar sobre a vida em si... O mesmo se aplica aos buscadores. Mesmo aquele que (dizem) buscar a verdade. Eles estão esperando alguma coisa acontecer, mas a única coisa poderá ser percebida (ao - e se - acontecer) é a consequência da verdade, não a verdade em si. Ela não pode ser percebida assim como a vida. Aliás, elas são apelidos de uma mesma coisa, indivisível. Ou seja: qualquer espera é infinita e qualquer entendimento é inexato. Solução? Stop! Pare toda e qualquer busca, pois aquilo que você está buscando é apenas uma idéia e como tal inatingível. Ou então você não sabe absolutamente o que quer e se define como buscador como parte de uma tribo. Dá no mesmo. O verdadeiro buscador não é na verdade um buscador, mas apenas um "encontrador". Ele se deu conta disso tudo e relaxou (let-go). No relaxamento, uma chance, uma porta se abre. Na verdade, ela já está aberta. Ou melhor: não há porta nenhuma..."
(Sabhaat - If not now, when?)
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Quebrando Conceitos |
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Sobre Experiências |
A verdade não está longe. Nem mesmo posso dizer que ela está perto... E ao mesmo tempo está tão próxima, mas tão próxima que se confunde com Você mesmo, ficando imperceptível aos sentidos... Existem muito poucos que a buscam realmente, de verdade! Todo o esforço e investimento é feito em cima de mentiras. A construção em cima do falso toma uma dimensão muito grande e alguns dão a sua vida para a sua manutenção. A simples idéia de que alguma coisa possa desmanchar a sua (falsa)estrutura os faz ficar amedrontados.
A Verdade tem que ser apenas des-coberta, não inventada. Ela é, por Sí mesma. Mentiras não podem ser des-cobertas, têm que ser inventadas, pois não existem em sí. Com a Verdade, você não tem nada a fazer... e porque não tem nada a fazer, a mente cessa, e com a mente cessando o ego desaparece, evapora. Este é o risco, o supremo risco. É o que gera o medo da mente criadora do mundo imaginário. O medo gera agressividade e a agressividade faz a mente ficar ainda mais burra do que já é... Os que fizeram o Experiência Zero este final de semana devem ter percebido isso. Se perceberam, ótimo! Se não perceberam, sugiro que continuem a construção do mundo imaginado. Esta é a sua única chance, pois você só pode destruir algo que foi construído. Mãos à obra!!! As cartas estão disponíveis. Continume a construção do castelo. Se tiverem sorte, daqui há algum tempo estarão des-esperados por não terem chegado a lugar nenhum. Aí talvez surja mais uma chance de desconstruir a sua própria matrix.
Abraços
Deva
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Busca da Sabedoria |
"... quando pela primeira vez Wi Hanble me falou sobre subir a montanha para buscar a visão de sabedoria e o que isso significava, eu não conseguia entender o que ele falava. Alguma coisa dentro de mim concordava com ele, mas era tudo muito obscuro. Ele dizia que não falava para a parte de mim que eu conhecia, mas para a que ele conhecia. O mesmo acontece agora quando lhe falo, pois da mesma forma que ele, não estou falando para o "você" que você conhece. Portanto, não se preocupe em concordar ou discordar. Apenas ouça, sem tentar interpretar. Devagarinho algo que é pequenino vai se ampliar dentro de você... Mas fique quieto, sem interferir com as coisas que acontecem em você...
É engraçado como o homem branco necessita de atividades para sobreviver. Precisa ser o responsável e participar ativamente de qualquer acontecimento, mesmo que seja a chuva caindo, o rio fluindo, o sol nascendo, os pássaros cantando... Ele precisa provar que faz alguma coisa, senão ele se considera um inútil. Pois é exatamente assim que eles chamam nossos irmãos de pele vermelha: inúteis! Para o homem branco, somente um inútil poderia parar e apreciar a beleza do por do sol, a beleza de um arco iris após a chuva de verão, o canto dos pássaros na Primavera ou mesmo participar de uma longa conversa ao pé do fogo sagrado. Não temos nada para buscar, pois temos tudo o que precisamos para viver. O que não temos não nos faz nenhuma falta, pois se fizesse, já teria sido providenciado, através de cada um de nós. Isso é o que acontece, para qualquer necessidade que tenhamos para viver! Esta sabedoria o homem branco gostaria de possuir, da mesma forma que ele possui terras, casas e empregados. Mas ele aos poucos percebe que há coisas que seu dinheiro não consegue comprar. Aí começa sua busca espiritual, a busca pela sabedoria... Para ter essa sabedoria passa toda a sua vida caçando pelo desconhecido em toda a parte e se esquece de simplesmente... viver! Não percebe que este correr desesperado é exatamente o que lhe impede de viver plenamente e ver que ele já é, antes e durante a própria caçada, aquilo que está caçando...
(White Goose)
segunda-feira, 27 de abril de 2009
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Statement |
um não-pensamento que sublima
a alegria de pensamentos elevados;
Algo mais profundamente difuso
do que a luz de um pôr-do-sol...
Fluindo com as cores dos oceanos,
com o ar vivo que sustenta a gaivota,
com o movimento que impele
todas as coisas do pensamento
e todos os objetos de todos os pensamentos.
Fluí através de todas as coisas.
Então,
Estou em casa.
(Deva)