quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Consciência é Isso? Ou Aquilo?

P: existem tipos diferentes de consciência? Compreensão e consciência são a mesma coisa? Quem sou eu, de verdade?

Há uma certa confusão quando tentamos comunicar algo para alguém que não esteja familiarizado com o assunto ou com a forma como este assunto é tratado. Cada "tribo" (médicos, engenheiros, programadores de computador, budistas, sannyasins, cristãos, psicólogos) tem a sua forma de comunicar, com termos que só são entendidos dentro do seu círculo de relações. Mesmo ali, dentro do círculo, a confusão continua.

Por exempo: na maioria das vezes o que vem à mente quando se ouve a palavra consciência é algo como comprovar existência a algo. Num nível mais profundo, compreensão, lucidez, clareza. E este entendimento está correto, sob o ponto de vista da mente. Quando falamos de Consciência este entendimento não serve mais. Por mais informações que nos cheguem sobre este assunto apenas podemos ter uma idéia do que Isso seja. Acontece que para Isso, definições/idéias não se aplicam, por não existir uma mente que o abarque... Há que ter uma experiência direta e esta experiência direta somente se dá com a eliminação da percepção da dualidade. Nesta eliminação abre-se a porta para uma compreensão. Mesmo assim, esta compreensão mostra apenas uma pálida idéia do que seja a Consciência. E, Consciência definitivamente não é uma pálida idéia.

O que seria a Consciência, então? Simplificando e usando um pouco de lógica básica, poderíamos dizer que, na visão sujeito-objeto, Consciência seria o sujeito. E coisas (todas elas, incluindo a consciência) seriam objetos. Mas que sujeito é esse? Os místicos dizem que Consciência é tudo o que é, mas isso às vezes pode parecer meio etéreo. É claro que "entendemos perfeitamente" quando filmes, livros e professores dizem que "somos todos Um". Mas não tenho muita certeza da clareza deste entendimento, até porque entendimento significa que uma mente capturou algo compatível com o seu sistema de crenças e conteúdos e Isso não é algo contível por alguma mente. Não há como definir os limites do sujeito, então?

Os neo-físicos são mais claros, como Amit Goswami, quando definem o Universo como "auto-consciente", ou seja, nele sujeito e objetos se confundem. Mas como "todos" poderiam ser um? Todos não dá a significação de diversidade? Onde e quando nos juntamos para sermos um só? Ou não estamos separados? Mais: o Universo (conceitualizado por cada um de nós - objetos) não seria outro objeto?

Pois é... Para facilitar e ajudar na formulação das respostas podemos começar definindo o que são objetos percebidos. São coisas que aparecem e desaparecem todo o tempo. São os eventos que definem todos os objetos observáveis e que aparecem e desaparecem, ou seja tudo aquilo que tem um início e um fim. Nestes eventos estão corpo, mente, um Banco de dados que a mente usa (memória) e o resto todo percebido, que para efeito deste raciocínio podemos chamar de... mundo. Mente, memória, corpo e mundo aparecem como pensamentos, sentimentos, e sensações. Estes aparecimentos são todos eventos que surgem em algum lugar. Por outro lado, um evento, pelas razões óbvias, não pode atingir algo fora de si mesmo, pois, se atingissem, a junção dele com algo de "fora" daria outro evento!! Usando o mesmo critério eventos não podem apontar um ao outro, tocar um ao outro ou conter um ao outro. É somente a memória que indica que alguma vez houve outro evento. Mas memória em si não é nada além de um pensamento que é... um outro evento! Verdadeiramente um evento não pode apontar nada para trás ou para adiante. Assim não há verdadeiramente nenhuma prova que houve até mesmo dois eventos. Se não pode haver dois eventos, como pode existir um?

O que sobra?
Algo que transcende e engloba todos os eventos, aquilo que é o pano de fundo de todos os eventos e que é a origem e a natureza primordial de tudo: a Isso damos o nome de Consciência!

E onde entra o onde e o quando somos Um? Bem, onde nos remete a lugar, um lugar que não pode ser vinculado a nenhum espaço e nem ter início e fim, pois senão seria apenas mais um evento. A palavra que descreve este não-lugar é... aqui! Da mesma forma, quando não pode definir um tempo, pois isso teria um início e um fim e isso, por definição, seria apenas mais um evento. A palavra que descreve não-tempo é... agora!

O "todos um" de que falam na verdade é apenas "Um" que acontece sempre e somente num "não-espaço/tempo" que todos falam mas não sabem o que é, chamado aqui-agora! Caramba! A Consciência é Aquilo que é no infinito aqui e no eterno agora!!! E aqui-agora é, por tudo o que foi dito acima, a única realidade auto-evidente, ou seja, que não precisa de comprovação para ser! E neste "não-espaço/tempo" nenhum evento acontece. Eis a razão da Unidade...

O mais maluco de tudo isso é que nos identificamos com... eventos! José da Silva, homem, branco, engenheiro, marido, pai, eleitor, poeta, etc., são apenas eventos acontecendo, sem comprovação alguma, a não ser por outros eventos, que por sua vez não podem ser comprovados por nenhum outro eventos a não ser pelo uso de outro evento chamado... memória (que por sua vez, como todo evento, não é auto-evidente). Parece demolidor, não é mesmo (pelo menos para os eventos)? Portanto, compreensão e consciência podem ser a mesma coisa, pois como dizia Mario Quintana, "a gente pensa uma coisa, escreve outra e quem lê entende uma terceira coisa. Enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita."

Consciência é mais simples: é tudo o que é... É o que Você é. Agora. Há que olhar para o "lugar" certo e "ver". Como? Investigando a natureza dos eventos que acontecem em você. Ao serem investigados serão vistos como verdadeiramente são. Aquilo que Você é permanece sempre disponível, imutável, imperturbável e silencioso.

Love

Deva

1 comentário

Anônimo disse...

Beautiful!
Love,
Devavani

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