segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quem vê o que o budha diz?

"Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas. Não se apresse em acreditar em nada só porque um professor famoso falou. Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo."
(Siddartha Gautama, Kalama Sutra 17:49)

Como seria se todos seguissem este ensinamento absolutamente perfeito? Talvez ele não fosse mais necessário. Sua atualidade reside exatamente na razão da sua existência. Há o cômodo hábito de tomar por garantido aquilo que é dito por alguém reconhecido, mesmo que este alguém (como Sidharta) alerte para a transitoriedade do que ele mesmo disse e proponha uma verificação individual. Invariavelmente esta investigação é deixada de lado. Parte em função do funcionamento da mente tradicional, parte em função da acomodação à zona de conforto, ao estabelecido, o que dá no mesmo. Há a tendência de aceitar apenas aquilo que faz sentido ao sistema de crenças. Absorve-se apenas aquilo que agrega conhecimento sem desestruturar o construido por anos de uma lavagem mental ao inverso. Obtemos uma quantidade impensável de conhecimento que, utilizado sem lucidez, apenas acumula lixo ao véu de samsara mental. Mantemos e incrementamos um processo de auto-limitação absurda, onde apenas aquilo que faz sentido a este limitado "firewall" mental é liberado para ser digerido.
O que aponta para a sabedoria implícita ao "não sei", para a verificação, para a possibilidade de descontrução do falso é desconsiderado. Não há clareza de perceber que esta rejeição à investigação é originada naquilo que receia ser desmascarado e desconstruido. Neste "fazer vista grossa" à sabedoria do ensinamento, endeusamos imagens, identificamo-nos com uma gama enorme de pensamentos ilusivos e nos fixamos nas estruturas mentais (ou físicas) que ciclicamente os sustentam. Isto é, aliás, a base de todas as estruturas religiosas constituidas e que não apontam para nada que não aumente o seu poder temporal. Há um medo atávico e inconsciente do confronto com a solitude instransferível da investigação individual e direta, que possibilita um vislumbre do eternamente disponível e libertador aqui-agora. Neste contexto, faz todo sentido a dificuldade de entender com toda a profundidade uma frase de Mooji: "é fácil ser o que você é. Difícil é deixar de ser o que você não é".
Love
Deva

2 comentários

Anônimo disse...

Querido cunhado, obrigada!
Beijos!
Clau

Anônimo disse...

deva amado, seus escritos me incomodam. por isso eu sempre volto a ler? beijo grande. ana

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