quarta-feira, 17 de março de 2010

Bushido

Li no blog do Ikeda o “Bushido”, o código de honra dos samurais, cuja origem remonta o século XIV. Havia lido alguns livros sobre o assunto, como “O livro dos cinco anéis” de Miyamoto Musashi, um dos maiores, senão o maior, samurais da história. Sempre me chamou a atenção a aparente mistura da prática guerreira e espiritualidade contida em todos os livros, textos ou filmes sobre o assunto. Hoje percebo que é tudo uma coisa só, que não há nenhuma divisão. Quando acontece é como um método de transmissão de algo. Sob este ponto de vista percebi que algumas frases do “Bushido do blog” estavam meio fora de contexto. Comuniquei o Ikeda e resolvi dar uma pesquisada sobre o assunto no Oráculo virtual. Uma viagem ao Japão medieval.
Bushido quer dizer, na tradução corrente, o caminho do guerreiro (bushi: guerreiro; do: caminho).
Em alguns textos mais antigos encontrei uma tradução um pouco diferente de bushi: aquele que é (ou que faz) o caminho. Para “do” uma tradução menos usual: agir como, comportar-se como ou vestir-se como. A tradução de Bushido ficaria algo do tipo “o agir daquele que é o caminho”, ou “ação no caminho”. Apesar de mais estranho, gostei muito mais destas “versões”...
Este código foi estruturado com base no budismo, no xintoísmo e no confucionismo. Do budismo extraiu o desapego aos objetos com a percepção de sua impermanência. Do confucionismo a lealdade com a comunidade, a família e ao senhor feudal. Do xintoísmo o profundo respeito Àquilo que tudo anima.
As principais virtudes decorrentes da prática do Bushido são:
Honestidade/Justiça (GI),
Coragem (YUU),
Benevolência (JIN),
Educação (REI),
Sinceridade (MAKOTO),
Honra (MEIYO) e
Lealdade (CHUUGI).

Estava começando a perceber o vínculo destas sete virtudes com o “caminho óctuplo” do budismo, quando Ikeda (que também estava pesquisando, pelo visto...) me enviou outra versão do Bushido, em inglês, que me pareceu bem mais precisa, bem mais... samurai!
Comecei a traduzir fazendo alguns exercícios com os verbos. E eis que, em Viamão, surge a versão 2010 do Bushido, totalmente “irresponsável” sob o ponto de vista histórico:

Bushido
Não desejo um lar, o momento presente é o lar;
Não desejo poder, o ritmo da natureza é o poder;
Não desejo liberdade, consciência é liberdade;
Não desejo habilidade, prática incessante é a habilidade;
Não desejo autoridade, honestidade é a autoridade;
Não necessito armas, ausência do ego é a maior arma;
Não sigo regras, prontidão e adaptabilidade são as regras;
Não tenho inimigos, apatia e descuido são inimigos;
Não necessito amigos, o universo é amigo;
Não sigo planos, paciência é o plano;
Não tenho estratégia, atenção desfocada é a estratégia;
Não tenho segredos mágicos, ação apropriada é o mágico segredo;
Não necessito ouvir, quietude é a audição;
Não tenho corpo, resistência incansável é o corpo;
Não tenho olhos, a intuição é meu olho;
Não necessito armadura, coragem e prontidão são a armadura;
Não necessito fortaleza, a não-mente é fortaleza;
Não necessito escudos, respeito à vida é o escudo;
Não necessito espada, percepção aguda é a espada;
Não almejo honra, compaixão e gentileza são a honra;
Não almejo vitórias, harmonia e equilíbrio são as vitórias;
Não desejo recompensas, lágrimas e sorrisos são as recompensas;
Não almejo vida ou morte, o ritmo da respiração são a vida e a morte;

Fica claro ao término da leitura (fora a absoluta admiração e integração com o conteúdo) que o Bushido é tanto uma meta a ser atingida quanto a expressão da sua obtenção. Que o que quer que tenha que ser obtido já está disponível agora, mas que sua obtenção requer o desenvolvimento das virtudes disponíveis quando... da sua obtenção! Que a meta é a obtenção das virtudes e que sua obtenção mostra de forma inequívoca que não há nada a ser almejado e que nem mesmo a meta faz o menor sentido...
E finalmente, que a precisa compreensão do Bushido não fica totalmente explícita na sua tradução alternativa, na versão original ou mesmo nesta explicação...
:)
Deva (Viamão – março/2010)

3 comentários

:-) disse...

nunca vi, em síntese, algo assim... que nos leva a um lugar tão desprentensioso e tão libertador...

gratidão por postar.

Anônimo disse...

Deva! O que aconteceu? Não mais postaste textos que eram sempre originais e elucidativos... Ou os iluminados simplesmente calam?

Gilberto.

Anjali - Paula Magnus disse...

Pois é, Gilberto... os iluminados também calam...
http://www.antirrestaurante.blogspot.com.br/2013/05/momento-de-silencio-no-daqui.html
Veja o link!
Carinho, Priya

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