terça-feira, 19 de maio de 2009

Por que poetar?


Uma vez alguém me falou sobre poesias, admirado por alguém fazer algo tão inútil. Pior: como alguém poderia gostar de algo tão sem utilidade prática? Na época não respondi, por não ter nenhum argumento contra. Na verdade hoje ainda não tenho nada contra esta “tese” discorrida com a veemência típica de quem não está entendendo nada e não quer demonstrar sua total e absoluta ignorância...

Sob o ponto de vista prático não há nenhuma utilidade para um poema. Pelo menos até ler Alberto Caeiro. Ou Walt Whitman. Experimente! Neste primeiro contato você é fisgado. Pode não perceber, mas se sente definitivamente conectado com algo inimaginável. Como sempre esteve, aliás...

Um poeta é um inútil total. Ele usa e abusa desta sua inutilidade para expressar o inexprimível. Usa e abusa de seu desconforto com o estar poeta. Ele não gosta disso, por uma razão simples: o poeta (pelo menos um como Caeiro) é a expressão da dualidade. Não há como ser diferente, pois ele só nasce na separação. A experiência (melhor seria a não-experiência) dele com aquilo que ele tenta descrever elimina-o completamente. Ele sabe que não há como olhar uma paisagem linda, por não haver separação entre os dois. Ele e a paisagem são um, ou melhor não há paisagem. Nem ele, tampouco. Para descrever isso com palavras, há que aparecer o poeta, há que acontecer a separação. Nesta separação ele tenta expressar, compartilhando sua experiência com os outros. Sofre com a limitação das palavras. Pesquisa termos, espreme, condensa, reescreve... E eis mais um poema parido.

Isso é algo absolutamente inútil. A transmissão não acontece. Experiência alguma, por mais simples que seja é compartilhada. Ela é única. Individual. Indivisível e inexprimível. Eis porque poetas são a expressão do conflito. Pelo menos aqueles que se consideram poetas ou que acham que devem dizer alguma coisa especial. Aqueles, que como Caeiro e Whitman sabem de sua inutilidade e de sua incompetência absoluta apenas brincam com as palavras. E se divertem... E nesta diversão nos presenteiam com pérolas maravilhosas.

2 comentários

pensar disse...

Eh simples assim... nasce nao sei de onde e serve para nao sei o que...mas nos pedem movimento
Bjs Mari

Fatah disse...

Poeta meu amor, porque me fazes chorar......mandala do caos, encontro e desencontro,busca e perda, ser, fazer e acontecer.......

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