Quando você diz: "entendi!" acabou de definir o momento em que perdeu o ponto. O momento em que você diz "isso eu já sabia" é quando você explicita que aquilo que você sabia não serve para absolutamente nada exceto ser conteúdo de sua mente limitada. E o conteúdo de sua mente não pode ser... Aquilo! O momento em que você tenta explicar o seu "nível de espiritualidade" é o momento que você define que está perdido. Aproveite este momento e sente-se com um mestre. Não um mestre imaginado, um mestre convenientemente distante ou algum que já tenha morrido. Mas uma presença! Não é necessária nenhuma explicação prévia do que isso seja. Você saberá. Basta sentar desarmado e “deixar” que o silêncio flua. Nada mais é necessário. Enquanto isso não acontecer você continuará tentando provar que nada disso é necessário. Apenas perceba que tentar provar que algo não é necessário define exatamente a sua necessidade...
(Deva)
quarta-feira, 27 de maio de 2009
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Got it!! |
terça-feira, 26 de maio de 2009
domingo, 24 de maio de 2009
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Nenhum método funciona |
Osho escreveu sobre tudo. Em seus satsangs ele respondia perguntas de buscadores de todo o mundo. Estes buscadores vinham fazer terapias na sua comuna, em Poona (Índia). Ficavam processando indefinidamente os “problemas” e não olhavam para onde ele apontava. Ouviam o que ele dizia, mas davam às suas palavras um significado pessoal. Um dia ele respondeu a uma pergunta sobre os métodos de terapia que eram usados. A resposta foi extremamente compassiva, amorosa, precisa, direta e reta. As usual...
"Nós usamos métodos, porque há pessoas como você que precisam de métodos, que não podem simplesmente ir com a realidade, que apenas podem ir pelo caminho difícil. Se você diz para eles sentarem silenciosamente, eles não entendem isso. Eles dizem: "Apenas sentar silenciosamente ? Alguma coisa acontece apenas por sentar silenciosamente ?” Eles não podem sentar silenciosamente - e tudo acontece somente quando você senta silenciosamente.
Sentado silenciosamente
nada fazendo
a primavera vem
e a grama cresce por si mesma...
Essa é a derradeira verdade. Mas você não pode deixa-la crescer. Você diz: “Eu não posso apenas sentar e deixar a grama crescer - eu tenho que puxar a grama!"
Então eu digo: "Ok. Então faça alguma coisa. Faça kundalini, salte, grite. Ou se você não se sente bem o bastante, então faça meditação dinâmica. Ou se você tem alguns karmas a sofrer, então vá para o Encounter..."
Esses métodos são usados aqui apenas por causa de sua estupidez. Toda a sua função é para deixar você cansado de fazer, que um dia você vem a mim e diz: "Osho, posso sentar silenciosamente ?"
Eis tudo. Eu vou mandando você para os grupos e meditações e torturas, e vou esperando...
Algum dia você chegará chorando e magoado e dirá: "É o bastante! Não posso sentar silenciosamente??
Eu direi: "Tenho estado esperando por este momento".
Sentado silenciosamente
nada fazendo
a primavera vem
e a grama cresce por si mesma...
Nenhum método ajuda. Como pode um método ajudar? Um método pode ajudar a criar algo não-natural. A Natureza não precisa ser criada. Ela já está aqui. Ela tem de ser vivida, dançada, cantada. Você não precisa fazer qualquer coisa! A grama já está crescendo. Você tem muita impaciência. Essa impaciência precisa de métodos.
Eu tenho tornado todos os tipos de métodos disponíveis aqui, todos os tipos de bobagens que você pode encontrar em qualquer lugar no mundo.
Eu dou a você métodos, não porque através dos métodos você se tornará iluminado, mas porque através dos métodos você verá o quão estúpido é - e isso já é uma grande iluminação!
OSHO - (TAKE IT EASY- Vol I)
sábado, 23 de maio de 2009
sexta-feira, 22 de maio de 2009
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Descaminhos |
Pergunta:
Deva, como seria traduzir Awareness na frase: There is one Awareness, one Consciousness, one energy, one Existence. If you don't hear this in everything I say, you're not hearing me yet?
Para mim, Consciousness é consciência, que pode se referir a ter consciência sobre o lugar em que estamos (sentidos alertas) ou a consciência de si mesmo (entendimento de que estamos vivos). Mas não dá pra transformar em "ter a consciência pesada" em "to have a heavy conciousness" por exemplo. Neste caso seria "to feel guilty" (sentir-se culpado). Awareness pode ser: consciência, reconhecimento, realização, entendimento, insight, apreciação, familiaridade, apreensão, compreensão, aprendizado formal... ufa! Há que se ligar no Espírito para conseguir realizar o que o sujeito quer dizer de acordo com o momento.”
Resposta:
Caro, traduzir a frase não significa entende-la. E entende-la não significa integrá-la. Integração não é um movimento de quem entendeu. Ela simplesmente acontece...
Não importa o que significa a frase, pois ela está solta e fora de contexto, sendo impossível saber o que o emissor estava querendo dizer. Pinçando palavras isoladas, Consciousness seria o Sujeito de que falamos anteriormente, aquele onde todos os objetos acontecem. Mas não é um sujeito, de fato. Não pode ser, esta é apenas uma forma de apontar. Que necessariamente tem que ser “dropada” em algum momento. A frase fala em um de cada (one Awareness, one Consciousness, one energy, one Existence) como se acontecessem em separado (ou ao mesmo tempo, o que dá no mesmo). Ele mistura alhos e bugalhos e vários "ones"... Mistura "Aquilo" com seus "atributos"... É muito, mas muito mais simples do que isso (e talvez por isso, tão difícil de ser aceito). Fico com o Nisargadatta Maharaj: “Consciousness is all there Is”. Isso não simplifica? Talvez sim. Talvez não. Mas todo o resto são variações sobre o tema.
Poderia dizer que "consciousness" é totalmente diferente de "Consciousness". Uma ("c") se refere a consciência mental ou aquela corporal (espaço onde estamos ou o império dos sentidos), algo que o emissor da frase propõe melhorar em seus trabalhos (ele não criou o bodywork?). A outra ("C") não se refere a absolutamente nada e não pode ser percebida por nenhum sentido. Nem melhorada! E é tudo que é. A consciência depende de entendimento e esclarecimento. A Consciência não precisa nem depende de absolutamente nada. Ela já é.
Em "awareness" não há nenhum "Eu verdadeiro" para ser encontrado, pois... quem o encontraria?
Aqui em Arupa apontamos para isso, usando algumas ferramentas. Eventualmente o Temazcal. Mas ele é apenas uma ferramenta. Melhor? Pior? Nem melhor nem pior. Não é um fim em si. Como a meditação, por exemplo. Ele aponta para uma pergunta, a única pergunta que merece ser feita: "quem sou eu?". E a resposta à esta pergunta não está onde você pensa que está. Nem pode ser obtida por aquilo que pensa. Este é o paradoxo. Não há caminho nenhum que te leve a um lugar diferente do que você está, agora. Nem vermelho, nem de nenhuma cor. E é com isso que "temos" que lidar. Não há fórmulas. Não há regras. Não há estrutura. O que quer que seja que sugira um processo para obter algo está fadado ao insucesso. Há um salto a ser dado. E este salto é para fora do conhecido. Para dentro do desconhecido. Osho falava em "salto quântico". Perfeito! Não é um aprendizado. É um total e absoluto “des-aprendizado”. Enquanto isso não "acontecer", quem procura/busca vai continuar fazendo vista grossa e postergando seu acordar, trilhando apenas caminhos conhecidos. Arupa é exatamente o oposto. É o total e absoluto descaminho. A resposta não é encontrada ao final de nenhum caminho. Nem no meio. Ou no início. Você não é nenhum caminho, aliás. E não há nenhum mapa que leve até você. Você nem mesmo é aquilo que está buscando... : )
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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Parafraseando Douglas Adams |
"existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente de onde vêm os pensamentos, desaparecerá instantaneamente e será substituído por um... pensamento, ou então por algo ainda mais estranho e inexplicável...
Existe uma segunda teoria diz que isso já aconteceu... : )
quarta-feira, 20 de maio de 2009
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Emptiness |
A necessidade do reconhecimento é uma das características básicas da relação discípulo-mestre. Ela mostra basicamente que o discípulo não está pronto. Se estiver, isso não mais importa, pois há a percepção de que não há quem reconheça nem ninguém para ser reconhecido...
Há uma estória atribuída a Bodhidharma, sobre isso:
“Uma vez um discípulo veio a Bodhidarma e disse:
- Mestre, você me disse para estar vazio. Agora eu me tornei vazio. O que mais você me diz?”
Bodhidarma bateu forte com seu bastão na sua cabeça e disse:
- Vá e jogue fora este seu vazio!”
Poder de síntese, não? Se alguém diz “eu estou vazio” o “eu” está ali e o “eu” não pode ser vazio, pois vazio é a ausência de qualquer “eu”. Vazio não pode ser reivindicado! Não há como dizer ”eu estou vazio”. Não há como o vazio reivindicar a vacuidade! O dizer nasce do sentir e o sentir dá nascimento ao ego. É uma espiral, novamente e novamente. Na verdade, o ego sempre quer ser especial. Ser especial é uma das suas armadilhas. Nesta armadilha caem os discípulos que vêm seu mestre como o melhor de todos, defendendo essa idéia com a própria vida. Ou os discípulos que consideram a si mesmos especiais, entre todos os demais discípulos. De comum um fato: a discipularidade.
Então, ser vazio, mas não pensar que é vazio. Ser qualquer coisa, mas não pensar que é qualquer coisa. Apenas ser, algo realmente especial e difícil... -J
(Deva)
terça-feira, 19 de maio de 2009
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Por que poetar? |
Uma vez alguém me falou sobre poesias, admirado por alguém fazer algo tão inútil. Pior: como alguém poderia gostar de algo tão sem utilidade prática? Na época não respondi, por não ter nenhum argumento contra. Na verdade hoje ainda não tenho nada contra esta “tese” discorrida com a veemência típica de quem não está entendendo nada e não quer demonstrar sua total e absoluta ignorância...
Sob o ponto de vista prático não há nenhuma utilidade para um poema. Pelo menos até ler Alberto Caeiro. Ou Walt Whitman. Experimente! Neste primeiro contato você é fisgado. Pode não perceber, mas se sente definitivamente conectado com algo inimaginável. Como sempre esteve, aliás...
Um poeta é um inútil total. Ele usa e abusa desta sua inutilidade para expressar o inexprimível. Usa e abusa de seu desconforto com o estar poeta. Ele não gosta disso, por uma razão simples: o poeta (pelo menos um como Caeiro) é a expressão da dualidade. Não há como ser diferente, pois ele só nasce na separação. A experiência (melhor seria a não-experiência) dele com aquilo que ele tenta descrever elimina-o completamente. Ele sabe que não há como olhar uma paisagem linda, por não haver separação entre os dois. Ele e a paisagem são um, ou melhor não há paisagem. Nem ele, tampouco. Para descrever isso com palavras, há que aparecer o poeta, há que acontecer a separação. Nesta separação ele tenta expressar, compartilhando sua experiência com os outros. Sofre com a limitação das palavras. Pesquisa termos, espreme, condensa, reescreve... E eis mais um poema parido.
Isso é algo absolutamente inútil. A transmissão não acontece. Experiência alguma, por mais simples que seja é compartilhada. Ela é única. Individual. Indivisível e inexprimível. Eis porque poetas são a expressão do conflito. Pelo menos aqueles que se consideram poetas ou que acham que devem dizer alguma coisa especial. Aqueles, que como Caeiro e Whitman sabem de sua inutilidade e de sua incompetência absoluta apenas brincam com as palavras. E se divertem... E nesta diversão nos presenteiam com pérolas maravilhosas.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
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Sat-Neto |
Hoje pela manhã falei com Gabito (neto de dois anos) ao telefone. Ele perguntou se eu ia buscá-lo para ir para o sítio. Eu respondi que não estava em Porto Alegre e que "amanhã" eu iria buscá-lo. Não foi necessário o silêncio do outro lado da linha para que eu percebesse a inutilidade do que foi dito. Para uma criança, amanhã é um tempo inatingível. Outro lugar que não aquele onde está agora é algo inimaginável. Ele apenas percebeu um grande ”não”. E desligou o telefone...
Conversar com uma criança é uma grande viagem a “Nowhere land”...
Fiquei imaginando como dizer a ele o que seria o tempo. Fisicamente o tempo é a “distância” entre dois instantes. É simples. Einsten disse uma vez que o tempo presente era aquele breve instante que separa o passado do futuro. E que matemáticamente o presente era a confluência de todo o passado e de todo o futuro. Ou seja, o momento que representava tudo o que já havia existido e tudo o que iria existir.
Mas, o que é o passado? E o que é o futuro?
Lembrei-me do Gabito e imaginei que respostas ele daria a estas duas perguntas. Talvez ele dissesse, baseando-se no único momento que ele percebe que o ”passado não é mais” e o futuro “não é ainda”. Não sei. Coisas de avô, pois crianças não lidam com o abstrato. Acho que ele ficaria me olhando por um instante apenas e logo voltaria a brincar...
Confiando no Gabito, isso significaria que passado e futuro são dois eventos que não existem. São no mínimo dois eventos não observáveis. Se não são observáveis (e tomando por garantido que apenas o que é observável existe para o Gabito) este dois eventos – passado e futuro - não são reais. O que seria a confluência de dois eventos não reais, então? Como o tempo (enquanto evento) pode existir se é impossível a sua observação?
Gabito não usa toda esta lógica. Crianças não usam toda esta parafernália colocada a disposição do homem adulto. Mas ele sabe. Apenas sabe. E apenas age de acordo. Ele é a expressão d’Aquilo que todos buscam ao entrar num mosteiro Zen, por exemplo, na busca pela paz e pela felicidade. Apenas responde ao que está posto. E nisso está a expressão da paz, mesmo quando está dando uns cascudos no seu irmão menor... :)
A resposta está nas crianças, numa frase dita há séculos: “deixai vir a mim as criancinhas, elas são o reino dos céus”.
Gabito, gracias!
Love
Deva
quarta-feira, 13 de maio de 2009
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O que é, o que é??? |
O que é? O que é?
Auto-evidente.
Não há quem, através de um fazer, possa obter. Nem perder, portanto.
É sua natureza original.
Não é uma aparecência. Nem uma des-aparecência.
Não é uma entidade ou um objeto na sua consciência.
Aquilo que você pensa ser é um objeto que aparece e desaparece nela.
Não há como pensar, definir, enquadrar ou limitar.
Onde pensamentos desaparecem, fica totalmente clara e evidente, mas não é obscurecida por nenhum.
Onde você não é, é. Onde Você é, é.
É pano de fundo para todo e qualquer evento, mas não é representada por nenhum evento.
Love
Deva (joking a little)
terça-feira, 12 de maio de 2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
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Heaven |
O humor inglês é diferenciado e tem doses variadas de inteligência, sutileza e ironia.
A tradução (como sempre) é livre.
Mas procura manter a eloqüência original...
O original está logo a seguir.
Love
Deva
Céu
Os peixes
(saturados de moscas, alto verão, vadiando na tarde molhada)
Meditam sabedorias, obscuras ou claras
Em cada segredo "peixoso" de medo ou esperança.
Dizem: eles têm seu Riacho e seu Lago;
Mas... haverá algo Além?
Esta vida não pode ser Tudo, juram,
Se fosse... que desagradável!!
Não duvide, que de alguma maneira,
o Bem deve vir da Água e do Lodo;
E com certeza o olhar reverente verá
Um propósito na Liquiditude
Misteriosamente (soturnamente?!?) sabemos, com fé rogamos
O futuro não é o Seco Absoluto
Do lodo ao lodo! -- A Morte se acerca --
Não é aqui o Final, não aqui!
Mas em algum lugar, além do Tempo e do Espaço,
A água é mais molhada, o limo é mais limoso!
E lá (confiavam) estava Aquele nadador,
Que nadou onde os rios nasceram,
Imenso, corpo e mente peixais,
Escamoso, onipotente e bom;
E sob a Barbatana todo-poderosa,
Os peixinhos menores se protegem.
Oh! jamais a mosca dissimula um anzol,
dizem os peixes no Riacho Eterno,
mais do que ervas comuns estão por lá
E lodo, celestialmente justo (*);
Gordas lagartas flutuam,
Larvas do paraiso são encontradas
Mariposas eternas, moscas imortais
E o verme que nunca morre.
E neste Ceu desejado por todos,
Terra não haverá, dizem os peixes.
(*) - pode ser abundante (celestialmente justo)
(Rupert Brooke)
Heaven
Fish (fly-replete, in depth of June,
Dawdling away their wat'ry noon)
Ponder deep wisdom, dark or clear,
Each secret fishy hope or fear.
Fish say, they have their Stream and Pond;
But is there anything Beyond?
This life cannot be All, they swear,
For how unpleasant, if it were!
One may not doubt that, somehow, Good
Shall come of Water and of Mud;
And, sure, the reverent eye must see
A Purpose in Liquidity.
We darkly know, by Faith we cry,
The future is not Wholly Dry.
Mud unto mud! -- - Death eddies near -- -
Not here the appointed End, not here!
But somewhere, beyond Space and Time.
Is wetter water, slimier slime!
And there (they trust) there swimmeth One
Who swam ere rivers were begun,
Immense, of fishy form and mind,
Squamous, omnipotent, and kind;
And under that Almighty Fin,
The littlest fish may enter in.
Oh! never fly conceals a hook,
Fish say, in the Eternal Brook,
But more than mundane weeds are there,
And mud, celestially fair;
Fat caterpillars drift around,
And Paradisal grubs are found;
Unfading moths, immortal flies,
And the worm that never dies.
And in that Heaven of all their wish,
There shall be no more land, say fish.
(Rupert Brooke)
domingo, 10 de maio de 2009
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Palavras |
"A rede de peixe existe por causa do peixe;
uma vez que pegar o peixe, esqueça a rede.
A armadilha para coelhos existe para pegar o coelho;
uma vez que o pegá-lo, esqueça a armadilha.
As palavras existem pelo sentido;
uma vez que conseguir o sentido, esqueça a palavra.
Onde posso encontrar um homem que esqueceu as palavras,
para que possa trocar uma palavra com ele?"
(Zhuang Zi)
sábado, 9 de maio de 2009
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Limites Imaginários |
De tanto ouvir falar sobre liberdade ficamos empenhados na sua obtenção. Este aparente empenho é louvável em essência, mas superficial. Ele aparece até em propagandas de produtos, mostrando o quão maravilhosa seria uma vida com liberdade – desde que usemos o tal produto que ela alardeia, é claro – mostrada com lindas imagens em ação. Não percebemos que apenas estamos nos enganchando em mais uma prisão. É fácil de entender porque esta prisão não é percebida com clareza. Algo físico é mais palpável: alguém preso numa cela. Cá estamos do lado de fora olhando o preso lá dentro, com seus movimentos tolhidos. Isto pode ser visto e entendido... Mesmo que a diferença seja apenas o lado em que estamos e o tamanho da prisão...
Da mesma forma que o preso na cela, estamos absolutamente presos numa cela imaginária. Presos a idéias e a conceitos. Assumimos como verdadeiro, desde cedo, tudo o que os “arautos da liberdade” – pais, padres, professores e terapeutas - nos disseram. “Faça isso, não faça aquilo e você obterá a desejada liberdade”. E acreditamos, sem questionar, que estamos em regime prisional e que precisamos nos libertar.
E aqui estamos nós enrolados na armadilha mental. Mas se olhamos com carinho vemos que em primeiro lugar pais, padres, professores e terapeutas apontam para qualquer coisa menos liberdade, pois não sabem. Em segundo lugar, você não sabe! Há um ruído na comunicação entre o que é definido como liberdade e o que você entende, algo como cegos guiando surdos. Há uma tensão (irreal) entre conceitos, entre idéias. Não há uma vivência direta. Não pode haver, pois o próprio desejo de liberdade mostra um profundo mal-entendido, uma névoa que o separa da liberdade derradeira.
Em outras palavras, você está preso na armadilha da busca da liberdade. Você está limitado por conceitos. Esta limitação é que produz o desejo de ser livre. Um conceito gerando outro numa orgia reprodutiva sem fim.
Para sair desta “roda de Samsara”, algo precisa ser investigado: quem sente-se preso? Quem se identifica como prisioneiro? Quem percebe o prisioneiro? Investigar respondendo estas questões talvez seja a chave para eliminar os mal-entendidos e viver diretamente o “sujeito” absolutamente livre de todas as idéias de como as coisas deveriam ser...
Esta clareza também elimina a armadilha da divisão, que gera continuamente até mesmo todos os “nós” e “eles” descritos acima...
(Deva)
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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Songs of myself |
Segue uma tradução livre. Havia sublinhado alguns trechos que considero marcantes.
Vi em seguida que quase todo o poema estava sublinhado... -::))
Traduzir Walt Whitman é uma viagem em todos os sentidos que isso possa ter.
Estrofe 20
Quem é que vai por aí ansioso, vulgar, místico, nu?
Como é que eu tiro energia da carne que como?
O que é um homem, enfim?
O que eu sou?
O que você é?
Tudo o que eu digo que é meu, você pode equilibrar dizendo que é seu...
De outro modo, escutar-me seria perder tempo.
Não ando pelo mundo a lastimar o que o mundo já lastima em demasia:
que os meses sejam um vácuo e o chão lama e podridão.
A gemer e acovardar-se, coberto de farinha para inválidos,
o conformismo pode ficar bem para os de quarta categoria;
Eu ponho o meu chapéu como bem quero, dentro ou fora da casa.
Por que iria eu rezar?
Por que haveria eu de me curvar e fazer rapapés?
Tendo até os íntimo investigado,
analisado até um fio de cabelo,
consultado doutores e feito os cálculos apropriados,
eu não encontro gordura mais doce
do que a inserida em meus próprios ossos.
Em toda pessoa eu vejo a mim mesmo,
nem mais nem menos um grão de mostarda,
e o bem ou mal que falo de mim mesmo
falo dela também.
Sei que sou sólido e são,
para mim num permanente fluir
convergem os objetos do universo;
todos estão escritos para mim
e eu tenho de saber o que significa, o que está escrito.
Sei que sou imortal,
sei que esta minha órbita não pode ser traçada
pelo compasso de um carpinteiro qualquer.
Sei que não passarei assim, como uma verruga de criança
que à noite se remove com um alfinete flambado.
Eu sei que sou majestoso,
não vou perturbar a paz para mostrar quanto valho
ou para ser compreendido: tenho visto que as leis elementares jamais pedem desculpas.
(Reconheço que, afinal de contas, não considero meu orgulho mais do que considero a minha casa.)
Existo como sou, isso é o que basta:
se ninguém mais no mundo despertar,
eu me sento contente;
e se cada um e todos despertarem,
eu contente me sento.
Existe um mundo desperto,
e este é o maior para mim: o mundo de mim mesmo.
Se a mim mesmo eu chegar hoje,
daqui a dez mil ou dez milhões de anos,
posso alcançá-lo agora bem-disposto
ou posso bem-disposto esperar mais.
O lugar de meus pés está assentado em granito:
rio-me do que dizem ser dissolução
E conheço a amplitude do tempo...
(Walt Whitman)
quinta-feira, 7 de maio de 2009
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Momentos ou Instantes? |
Há um tempo em que temos certeza de quem somos.
Há um instante em que temos a clareza desta incerteza...
Há um tempo em que buscamos por coisas interessantes.
Há um instante em que percebemos que a busca nada tem a dar...
Há um tempo em que tentamos manter as coisas boas rejeitando as ruins.
Há um instante em que percebemos o quão efêmeras são e quão tolos somos em acreditar na permanência...
Há um tempo em que temos uma noção do que somos.
Há um instante em que percebemos não ter a menor idéia do que isso seja...
Há um tempo em que fazemos coisas sem pensar e estas são maravilhosas.
Há um tempo em que fazemos coisas pensando e elas se mostram as piores.
Há um instante em que percebemos que cada coisa que acontece é perfeita, em si...
Há um tempo em que tentamos escrever e somos interrompidos.
Há um instante em que percebemos o fluxo constante...
Há um tempo em que pensamos que a inspiração se foi.
Há um instante em que percebemos que inspiração não vai, nem vem...
Há um tempo em que temos que parar com o que estamos fazendo.
Há um instante em que percebemos que não há alguém fazendo...
Há um tempo em que pensamos ser os agentes do acontecimento.
Há um instante em que percebemos que somos o que acontece...
Há um tempo em que pensamos a vida como a soma de todos instantes.
Há um instante que se percebe ser único, infinito...
quarta-feira, 6 de maio de 2009
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Exato momento |
Há tudo agora
Nesse exato momento...
Há vida,
E tudo pára,
Agora,
Nesse exato momento...
Ah, vida...
Há tudo dentro
Nesse exato momento...
Tudo sempre,
agora,
Nesse exato momento!
Ah, existência...
Há compaixão
Somente agora,
Nesse exato momento
Ah lua...
há luar
Agora
Nesse exato momento...
Ah onda...
há mar,
Agora,
Nesse exato momento
terça-feira, 5 de maio de 2009
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Paradoxo dos buscadores (1) |
A identidade de um buscador é definida pelo seu argumento de busca. Mas aquilo que busca é um objeto e um objeto não tem a capacidade de perceber o sujeito. Além disso, este "sujeito" não pode ser uma definição, pois se fosse, ela caberia dentro do mesmo objeto limitante que não consegue percebe-Lo. Esta indefinição é total e absoluta, por envolver e conter este objeto limitado. Para onde isso aponta? Para um ponto de não-definição, onde só há uma ação cabível: relaxar! Sem entender, pela impossibilidade total disso. Nem explicar, por sua relatividade temporal dentro do absoluto atemporal. Resta então vive-lo a cada momento até que sua expressão seja o que é, sempre: divinamente divina, em toda a sua extensão. O mais delicioso de tudo é que você já é isso, agora. Mas ainda se percebe como sendo alguns momentos especiais dentro de grandes momentos "não divinos". No exato instante em que você perceber profundamente que "momentos" finitos não são "Aquilo" ilimitado e incontivel e que todos os momentos não-divinos estão contidos dentro do momento divino único, infinito, será "transmutado" naquilo que sempre foi e nunca deixou de ser: o próprio sujeito-divino.
(Deva)
segunda-feira, 4 de maio de 2009
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Pingos de Chuva |
“... um dia, olhando para a chuva percebi que os pensamentos são exatamente como os pingos da chuva caindo. Os pingos nascem em algum lugar e desaparecem em outro. Mais tarde, voltam novamente. Nunca serão os mesmos, apesar de usarem a mesma água para existirem. Assim são os pensamentos. Eles existem, nascem em algum lugar, são percebidos e retornam para o mesmo lugar de onde vieram. Assim como os pingos da chuva, nascem na mesma origem. São inofensivos em si, mas podem se transformar numa grande força. Os pingos necessitam de uma força externa a eles para se transformarem em algo poderoso, como a tempestade. Os pensamentos necessitam desta mesma força externa a eles: que algo acredite e lhes dê validade. Um pingo d’água seca ao sol quando a ele exposto. Um pensamento se desmancha quando observado da forma como ele realmente é. Os pensamentos lhe dizem muitas coisas. Você acreditar nestas coisas é acreditar que pensamentos respiram, pensamentos fazem seu coração bater ou que até mesmo fazem a chuva cair. Observe bem e verá que todas estas coisas acontecem a seu próprio tempo sem a necessidade de serem pensadas. Faça um pouco mais: tente ficar um tempo sem pensar. Se conseguir, olhe e perceba que o que fez os pensamentos não acontecerem foi apenas um outro pensamento: o pensamento de evitar pensamentos. Não há nenhum mal nos pensamentos. Nem um bem. Há algum mal nas nuvens no céu? Elas aparecem e logo são levadas pelo vento. Perceba onde as nuvens aparecem e desaparecem. É onde os pensamentos aparecem e desaparecem. Onde seu corpo, as montanhas, os rios, os animais e as florestas aparecem e desaparecem...
(White Goose)
domingo, 3 de maio de 2009
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Inicio e fim |
"... Como acabará? Não faço a menor idéia. O princípio de todas as coisas revelou-se. Depois disso, por que procuraria pelo final? É como andar em círculos. Você nunca sabe em que ponto está. Início, fim... Onde está um, ali está o outro. Cada momento contém ambos: o princípio e o fim. Há algum sentido em saber quando algo começa e quando termina? Sob qual ponto de vista?"
(Deva)
sábado, 2 de maio de 2009
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Dia do trabalho |
A palavra trabalho, tem sua origem no latim ("tripalium"), cujo significado é "três paus", um instrumento de tortura medieval. No inconsciente coletivo do mundo ocidental, trabalho é considerado como algo extremamente torturante e sem outro propósito que não seja o de conseguir o sustento diário. Nas férias dos "trabalhadores" acontece um fenômeno interessante. Primeiro uma dificuldade de desacelerar, uma sensação de ressaca como se todos estivessem, até o momento da entrada em férias, "bebendo uma bebida amarga, tragando a dor e engolindo a labuta". Muitos chegam a dormir por vários dias até conseguirem "regular a lenta". Tem início, enfim, o período de vida mais ansiosamente aguardado. Nos 20 dias que restam, a vida é exatamente como ela deveria ser, ou ao menos deveria. As coisas não saem exatamente como o planejado, mas enfim, isso também faz parte das férias. Mas como tudo que é bom, as férias também acabam. E lá vão todos hibernar por mais onze meses até o próximo período da "vida como ela deveria ser". Isso foi o que nossos pais nos ensinaram. E os pais de nosso pais numa transmissão cultural sem um final à vista . Nunca investigamos nem questionamos isso de forma séria e honesta. O resultado que vamos encontrar talvez seja algo que não gostaríamos de ver. Ou de aceitar...
Nossa cultura não é questionada de uma forma profunda. Nem superficial. As diferenças capital e trabalho, o conflito aparente, são diferenças periféricas. O trabalho quer ficar com o capital e o capital quer um trabalho com menor valor possível, pois aí está o lucro final. Consumo e produtividade fazem parte deste mesmo contexto maquiavélico. Todas as novidades metodológicas que aparentemente visam melhorar a qualidade de vida do trabalhador e da comunidade em geral, na verdade são apenas formas de acomodação cada vez mais sofisticadas do "status quo" - vender rapidamente cada vez mais supérfluos. Elas não questionam profundamente o que existe na base do relacionamento entre empresários e operários de todos os níveis. Na verdade, elas não questionam nem o trabalho em si!
Independente disso, uma quantidade cada vez maior de pessoas está saindo do "mainstream" da loucura coletiva que assola o mundo. Um número cada vez maior de comunidades alternativas ao que está posto surge dos escombros de uma sociedade falida em seus propósitos de bem-estar coletivo. Independente do credo e do sistema de governo, a sociedade tradicional está baseada num sistema de crenças feudal, baseado no poder temporal e na sua transmissão familiar. Estas novas sociedades que surgem, à margem desta, privilegiam a individualidade como sendo a base de uma sociedade mais justa. O conceito de família, apesar do que possa parecer, está sendo ampliado, pois os limites antigos rapidamente se esfumaçam. Não é a toa que a Igreja, um dos alicerces onde se baseia este sistema velho e carcomido volta a carga para reforçar a família tradicional como sendo o ponto vital de manutenção de uma sociedade... exatamente como está! A mesma família que é uma fábrica de neuróticos, psicopatas e esquizofrênicos.
Paralelamente a esses eventos, nunca se gastou tanto dinheiro em pesquisa de medicamentos contra a depressão e doenças a ela vinculadas. O processo é quase uma comédia: a sociedade cria a doença, alimenta-a e provê a forma de curá-la. De preferência gerando lucro aos "salvadores". Psicólogos e psiquiatras são os arautos e representantes desta "cura", enquadrando definitivamente seus clientes na "roda de samsara" social. São criados os "ajustados". Os "normais".
Bush é um destes "ajustados". Tony Blair é outro. José Sarney, o papa Bento... Todos estão perfeitamente dentro do sistema e colaborando para sua manutenção...
É cômico. E trágico, como no teatro grego.
Se observarmos com um mínimo de atenção a esta "peça" veremos que este sistema é na verdade uma ditadura dos mortos. Considera acontecimentos e regras passadas, mortas, como base para definir os passos a serem dados no incerto e improvável futuro...
O presente é desconsiderado. Nem há um mínimo movimento para vive-lo. Toda a energia é gasta em julgar o que passou e planejar o que virá.
Enquanto isso, como dizia meu amigo Lennon, a vida acontece.
(Deva - mai/2008)